Ingestão de proteínas e atividade física ajudam a minimizar os efeitos da perda muscular que afeta a qualidade de vida.
Fernando Ortiz
Com o aumento da expectativa de vida e estimativa de que, até 2020, o Brasil tenha mais de 32 milhões de idosos, a manutenção da saúde para garantir bem-estar, autonomia, funcionalidade e um envelhecimento saudável ganha especial atenção. Devido ao avanço da idade, o corpo passa por um processo orgânico e progressivo em que todas as funções sofrem alterações, e uma das mais significativas é a sarcopenia, quadro sindrômico associado à perda de força e massa muscular com potenciais prejuízos a saúde. O problema atinge cerca de 30% da população acima de 60 anos, mas pode ter os efeitos minimizados ou revertidos se o idoso tiver alguns hábitos saudáveis.
Caracterizada pelo declínio muscular idade-relacionado, a sarcopenia indica o processo de envelhecimento muscular associado às diminuições de massa, força e velocidade de contração muscular. “Entre os fatores de risco estão falta de atividade física, baixa ingestão calórica e proteica, modificações hormonais e alterações nos níveis de citocinas pró-inflamatórias, que ocorrem com o envelhecimento, além da presença de doenças crônicas”, explica o professor adjunto de Geriatria do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FMB-UNESP), Paulo Villas Boas.
Considerado um processo patológico com potenciais riscos à saúde, a sarcopenia compromete a marcha, diminui a funcionalidade e prejudica as atividades diárias, contribuindo para o risco de quedas e, consequentemente, para uma maior dependência. “O idoso fica incapacitado de realizar funções simples, como tomar banho ou levantar-se do sofá”, acentua o chefe do Serviço de Geriatria do Hospital das Clinicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE) Eduardo A. P. de Figueiredo. O médico Indica a perda acentuada de peso – algo em torno de 5% da massa corpórea em até seis meses, sem que haja outro fator, como doença ou dieta – como uma das características da síndrome.
Segundo o professor Paulo Villas Boas, a perda de massa muscular observada no idoso não deve ser encarada como um problema especifico desta faixa etária. “A sarcopenia deve ser vista sob a perspectiva de um modelo contínuo de vida, uma vez que o pico de massa muscular ocorre por volta dos 25 anos e se mantém até os 50. Após essa idade começa a perda da massa muscular, que é mais acentuada após os 70 anos”, descreve.
Por isso, o acompanhamento médico no decorrer da vida para avaliar peso, funcionalidades, controle de doenças, atividade física e nutrição é essencial para evitar a descoberta tardia, prevenir e/ou reverter parte dos efeitos da sarcopenia. Os especialistas afirmam, ainda, que a percepção da sarcopenia é individual e depende das atividades realizadas pelo idoso e da intensidade da perda muscular. “Por ser uma condição de etiologia multifatorial, além da dieta é essencial incluir a prática do exercício físico, aliando aeróbico e anaeróbico, visando benefícios como a manutenção e o ganho em força e massa muscular”, frisa o médico Eduardo A. P. de Figueiredo. Para atender e respeitar as limitações de cada indivíduo é fundamental uma avaliação geriátrica e cardiológica antes do inicio dos treinos.
Proteína garante músculos mais fortes
Aliar uma dieta rica em proteínas com a prática de exercícios físicos é um dos segredos para a prevenção da sarcopenia. Segundo o professor adjunto do curso de Nutrição da faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (FM-UFU), Erick P. de Oliveira, o aporte adequado de proteínas de alto valor biológico aumenta o processo de síntese proteica e, portanto, é essencial para minimizar os efeitos da perda muscular. “A massa muscular se manterá quando a síntese proteica for igual ao catabolismo muscular, durante as 24 horas do dia, pensando em longo prazo”, explica. Para que isso ocorra, o especialista recomenda proteínas ricas em leucina – aminoácido que estimula a síntese proteica é encontrado em alimentos como leite, carnes, ovo e soja, além de proteína do soro do leite (whey) e caseína.
Por apresentarem maior resistência ao anabolismo, os idosos parecem necessitar de maior ingestão de proteína para garantir a manutenção ou o ganho de massa muscular. “Enquanto a recomendação de consumo para jovens adultos sedentários é de 0,8g/kg/dia, os idosos necessitam ingerir entre 1-1,3 g/kg/dia”, descreve. O nutricionista também considera importante a distribuição igualitária de proteínas, pelo menos nas três principais refeições do dia, produzindo síntese máxima e, com isso, maior resposta. Quando não é possível atingir a recomendação proteica via alimentação, a suplementação de proteínas de alto valor biológico torna-se necessária.
“Pesquisas mostram, por exemplo, que o fornecimento de suplemento nutricional enriquecido com aminoácidos essenciais pode melhorar massa, força e função muscular, aliado à atividade física”, complementa o professor Paulo Villas Boas. O nutricionista Erick P. de Oliveira recomenda, ainda, suplementação de vitamina D, em casos onde haja carência comprovada, cuja deficiência também está associada á redução de força e anabolismo muscular. Os especialistas reforçam que a prevenção da sarcopenia depende da conscientização de cada individuo e do equilíbrio entre dieta rica e proteínas, atividade física regular e acompanhamento médico e de profissional de atividade física, que deve ser realizado desde o inicio da vida adulta para que o estilo de vida adequado seja mantido durante a fase idosa.