Identificar problemas relacionados ao uso dos medicamentos (PRM) é um dos objetivos do cuidado farmacêutico. É pelo serviço farmacêutico denominado “acompanhamento farmacoterapêutico” que o profissional pode identificar e manejar PRMs. Entre os PRMs possíveis, ocorrem aqueles relacionados à efetividade da farmacoterapia. Nestes casos, um ou mais medicamentos usados pelo paciente não cumprem os objetivos terapêuticos estabelecidos.
Os PRMs relacionados à efetividade podem ser “quantitativos” ou “não quantitativos”. Na primeira condição a inefetividade está relacionada a uma dose inferior àquela realmente necessária para o paciente. Em outras palavras, o paciente não recebe a quantidade necessária de medicamento para se atingir os objetivos terapêuticos. Na segunda condição a inefetividade pode estar relacionada à escolha equivocada do medicamento, considerando o diagnóstico estabelecido, ou ainda, a fatores biológicos de variabilidade terapêutica.
Os fatores de variabilidade terapêutica incluem características relacionadas ao paciente que podem influenciar na forma como os medicamentos agem. Muitas vezes, estes fatores comprometem a efetividade farmacológica e o sucesso terapêutico. Mesmo em doses usuais, muitos medicamentos podem ter o seu efeito influenciado por estes fatores durante o curso do tratamento. Por esta razão, o acompanhamento farmacoterapêutico é de grande utilidade na identificação e no manejo destes problemas.
O peso e a composição corporal constituem em importante fator de variabilidade farmacocinética de resultados terapêuticos. Pacientes com sobrepeso podem ter o volume de distribuição de certos fármacos aumentado. Isto reduz a sua concentração no sítio de ação e, consequentemente, compromete a resposta farmacológica.
A idade é outro importante fator de variabilidade terapêutica. Pacientes idosos podem apresentar algum nível de comprometimento hepático. Nesta condição, a taxa de metabolização de fármacos pode ser reduzida, ampliando a possibilidade de reações adversas. Ajustes de doses, portanto, são necessárias em casos como este.
Ajustes de doses também podem ser necessários em pacientes geriátricos com insuficiência renal aguda. Estes pacientes podem apresentar redução da taxa de filtração glomerular, comprometendo a excreção de fármacos.
De forma mais rara, algumas pessoas podem apresentar características genéticas que induzem à “resistência adquirida” a fármacos. Estas pessoas desenvolvem células resistentes a um determinado fármaco e, por consequência, não respondem de forma efetiva a este tratamento. Devido ao caráter genético desta variabilidade terapêutica, trata-se de condição extremamente difícil de ser identificada na prática clínica diária.
A adesão ao tratamento, e o modo como os pacientes utilizam seus medicamentos, também influenciam de forma significativa a efetividade terapêutica. Um estudo demonstrou que de 264 pacientes entrevistados, apenas 34% demonstrou bom nível de conhecimento sobre seus medicamentos (CORRER, 2013).
A orientação farmacêutica e o manejo de PRMs durante o acompanhamento farmacoterapêutico contribuem de forma significativa para o sucesso da farmacoterapia. O cuidado farmacêutico é, sem sobra de dúvidas, uma prática de grande contribuição para o alcance das metas terapêuticas.
Entretanto, o cuidado farmacêutico deve ser realizado de forma compartilhada com o paciente. O seu esclarecimento e orientação promovem a adesão ao tratamento e a utilização correta dos medicamentos. A avaliação farmacêutica do paciente e de suas condições clínicas permite ao profissional identificar e manejar fatores de variabilidade terapêutica e promover o sucesso da farmacoterapia.
Redigido por Lincoln Cardoso, farmacêutico e professor
Link original da matéria: http://farmacosophia.com.br/2017/03/16/por-que-os-medicamentos-nao-funcionam/